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27/06/2022A produção de proteína animal tem evoluído ao longo dos anos. Tais avanços visam oferecer condições ideais para o desenvolvimento e produtividade dos animais, assim como um modelo sustentável de produção de alimentos com menor impacto ao meio ambiente e ao homem.
É nesse contexto que entra o debate sobre o uso racional de antimicrobianos — cada vez mais aflorado com a retomada dos eventos presenciais do setor avícola.
Usados na avicultura nos últimos 70 anos, os antimicrobianos se tornaram uma ferramenta eficaz para combater agentes patógenos e aumentar a eficiência da produção animal. Tanto que não é possível desassociar os avanços da avicultura moderna ao uso desses medicamentos.
Mas, nos dias atuais, o mundo está cada vez mais sintonizado com o conceito One Health (saúde única entre seres humanos, animais e meio ambiente). Por esse motivo, há uma grande preocupação quanto ao uso de antibióticos, visando preservar algumas moléculas por meio da não utilização preventiva e da proibição do uso como melhoradores de desempenho. Esta última medida inclusive já vigora na Europa, EUA e, mais recentemente, na China.
Esse é um “caminho natural” pelo qual as agroindústrias nacionais também devem passar. Afinal, o Brasil é grande consumidor e exportador de proteína animal, motivo que desperta o interesse dos empresários e técnicos sobre como produzir alimentos com menor uso possível de antibióticos.
Nesse sentido, como é possível dar os primeiros passos no uso racional dos antimicrobianos de modo a não colocar em risco a saúde humana, o meio ambiente, a produção animal e também a produtividade?
Quais são as alternativas frente às melhorias de manejo? Como enxergar no uso racional de antimicrobianos uma oportunidade? É isso o que vamos abordar neste artigo que tem a contribuição de Bauer Alvarenga, Gerente de Negócios da Biocamp.
Antimicrobianos: o que você precisa saber
Os antimicrobianos são divididos entre inespecíficos (antissépticos e desinfetantes) e específicos. Dentro desse último grupo, há os antibióticos, aqueles obtidos de microrganismos, e os quimioterápicos, aqueles obtidos de maneira não natural e que apresentam compostos sintéticos e semissintéticos.
Todos eles, de maneira geral, são usados no tratamento de doenças infecciosas. Eles NÃO são, portanto, vilões da avicultura.
“Quando se fala em uso racional de antimicrobianos na produção animal, em nenhum momento está se propondo a não utilização desses medicamentos, mas sim o modo como eles são utilizados”, conta Bauer.
Isso significa que, para tratamento de enfermidades na avicultura, ainda são (e continuarão sendo) essenciais. Os principais pontos de discussão estão nas outras duas formas de uso, que detalharemos a seguir:
Os 3 tipos principais de uso dos antimicrobianos
Na avicultura, os antimicrobianos têm 3 principais tipos de uso:
1. Profilático (Preventivo)
Para possível controle de enfermidades antes de sua manifestação. Acontece, geralmente, quando o produtor já tem um histórico de lotes que adoeceram (aos 35 dias, por exemplo) e passa a administrar os antimicrobianos em um lote saudável (aos 28 dias) a fim de evitar a doença. A dosagem é a mesma que a terapêutica.
2. Terapêutico
Para tratar infecções em curso. Acontece quando o lote já está doente e os antimicrobianos são administrados em dosagem terapêutica na ração ou em água de bebida para combater os patógenos existentes.
3. Melhorador de desempenho (AMD)
Para agir sobre uma parte da microbiota intestinal, que pode causar processos inflamatórios. Algumas moléculas de antimicrobianos são utilizadas de modo contínuo na ração, em baixa dosagem, favorecendo o ganho de peso e a conversão alimentar das aves.
Alerta vermelho: bactérias resistentes
O alerta vermelho quanto ao uso de antimicrobianos aconteceu após o aumento de casos de bactérias resistentes ou multirresistentes a essa classe de medicamentos. Por esse motivo, órgãos como a Organização Mundial da Saúde (OMS) passaram a discutir o assunto com maior rigor, tanto em medicina humana quanto veterinária. Afinal, essas bactérias são selecionadas por meio do uso dos antimicrobianos em todos os processos que envolvem seres humanos e animais para produção de alimentos.
“O risco de contaminação ambiental também recebe grande atenção, pois, após serem metabolizadas, essas drogas são eliminadas via fezes e urina pelos animais. E isso poderá atingir solo e água, impactando negativamente sobre a microbiota presente nesses ecossistemas”, explica Bauer.
Para se ter ideia, um estudo publicado em 2019 pela Food and Agriculture Organization of United Nations indica que, se nada mudar em relação ao uso dos antimicrobianos como melhoradores de desempenho (AMD), em 2050 haverá 10 milhões de mortes anuais e 10% de perdas produtivas.
Com isso, Europa, EUA e China já proibiram o uso de AMD — respectivamente nos anos de 2006, 2017 e 2021. No Brasil, 8 moléculas ainda são permitidas. A pergunta que fica é: por quanto tempo?
Como racionalizar o uso de antimicrobianos na avicultura
Se as granjas vivenciam desafios com enterobactérias diversificadas e cada vez mais o consumidor e o meio científico desafiam a avicultura a trabalhar de um modo mais racional com os antimicrobianos, o que é possível fazer?
Para auxiliar na escolha do antimicrobiano ideal para um quadro clínico, o mais correto é respeitarmos os seguintes critérios.
- Isolar e identificar corretamente a (s) bactéria (s) envolvida (s) no quadro clínico;
- Avaliar a sensibilidade das principais classes de antimicrobianos, por meio do antibiograma;
- Definir o espectro de ação desejado (gram positivo/negativo ou amplo espectro);
- Atentar para o local de ação-alvo da droga (exemplo: ação sistêmica, ação entérica, etc.);
- E muita atenção com o período de carência.
Após realizar esses cinco pontos, utilize o ranking de importância dos antibióticos para seres humanos, publicado pela Organização Mundial de Saúde (OMS), para definir a droga mais eficiente para o quadro clínico, mas que apresente a menor importância aos seres humanos.
Depois, Bauer recomenda fazer o PDCA, que significa:
P (Plan = Planejar) | D (Do = Executar) | C (Check = Checar/Controlar) | A (Act = Agir)
Aplicável a todas as empresas, esse método contribui para mostrar em quais pontos é possível melhorar. Seja em ajustar manejos e processos, ao investir em novas estruturas, em rever programas de vacinas, de limpeza, de desinfecção, de controle de pragas e de qualidade intestinal.
“É importante considerar que cada empresa possui o seu tempo e as mudanças podem ser feitas de maneira gradual. Podem começar em um percentual do plantel e/ou em apenas uma região. Ouvir a equipe técnica sobre os desafios encontrados é fundamental durante todo o processo”, diz Bauer.
O treinamento da equipe técnica também se faz necessário para retirada dos antigos costumes e compartilhamento de novas estratégias, bem como reajustar as Boas Práticas de Produção (BPP) sempre que for necessário.
O uso racional de antimicrobianos nos desafia a produzir alimentos com o menor uso possível dessas drogas. Principalmente no que tange ao uso preventivo e como AMD. Hoje, é possível contar com uma vasta linha de aditivos, que são considerados substitutos eficazes aos antimicrobianos, merecendo maior destaque aqueles que modulam a microbiota intestinal, permitindo a formação e manutenção das bactérias benéficas.
Probióticos: manutenção da microbiota em eubiose
A qualidade intestinal das aves está diretamente relacionada ao desenvolvimento do animal. Em outras palavras: aves saudáveis possuem ótima qualidade intestinal. Isso só é possível devido ao trabalho conjunto de três sistemas — digestório, imune e nervoso central – e da microbiota intestinal.
Sendo assim, saber modular a microbiota dos animais de produção é o melhor caminho para alcançar a integridade intestinal, reduzir enfermidades e, consequentemente, reduzir ao máximo a necessidade de utilização dos antimicrobianos. Uma microbiota em eubiose (equilíbrio) ajuda a melhorar a absorção de nutrientes, reduz a inflamação intestinal, modula a expressão de citocinas inflamatórias e estimula a imunidade da mucosa.
Para isso, é importante começar o mais cedo possível, ainda no incubatório, com a colonização precoce das aves por meio do uso de probióticos de exclusão competitiva ou de múltiplas cepas láticas. Em seguida, visando manter o equilíbrio da microbiota, recomenda-se o uso contínuo de probióticos via ração.
Ao mesmo tempo em que modulam positivamente a microbiota, favorecendo a fisiologia e o desenvolvimento das aves, também preservam a eficiência dos antibióticos quando forem necessários. Acrescidos de ajustes em Boas Práticas de Produção e de biosseguridade, são medidas economicamente viáveis que permitem a produção de alimentos respeitando o conceito do One Health.
Para acompanhar esse caminho que é tendência mundial, veja em detalhes como um programa de probióticos pode contribuir. Os especialistas da Biocamp têm experiência no campo, entendem os desafios da agroindústria e das granjas e trazem sugestões aderentes à realidade de cada empresa. Fale com a Biocamp!