
Blog Biocamp: o que vale a pena ler de novo sobre a avicultura
26/12/2022
Como se preparar para a proibição do uso de antimicrobianos melhoradores de desempenho
30/01/2023“No Brasil, o futuro é duvidoso e o passado é incerto”. Essa frase atribuída ora a Pedro Malan, ora a Gustavo Loyola (ambos do governo FHC) sintetiza o sentimento daquilo que “podemos esperar” para 2023. É verdade que a avicultura brasileira, nos últimos 50 anos, vem sendo previsível — e sua constância é até mesmo monótona. Com raras exceções, sempre houve crescimento. Então, se a base histórica for um dos únicos fatores para fazer previsões, poderíamos ser otimistas para 2023.
Mas quem está seguro sobre como se comportará o mercado de aves e ovos neste ano, apostando nessa premissa, talvez não tenha se dado conta ainda das inúmeras variáveis envolvidas, sobre as quais falo a seguir. Uma delas — e muito importante — é…
Nunca subestime a capacidade de adaptação de um vírus!
Desde outubro passado, um surto de Influenza Aviária de Alta Patogenicidade (IAAP) desce pela Costa do Pacífico, na América do Sul, provocando a morte de milhares de aves migratórias anuais e contaminando as aves de vida livre locais.
Para os evolucionistas, este fato é pouco comum. Isso porque, para um vírus (agente) se disseminar e se perpetuar na natureza, ele não deveria “eliminar” o seu principal hospedeiro e meio de disseminação: as aves aquáticas migratórias que, há milhares de anos, saem da América do Norte, na aproximação do inverno, para passar o verão na América do Sul.
Então, ficam muitas perguntas cujas respostas talvez iremos descobrir em 2023:
- Qual é o “golpe” da mãe natureza para produzir este quadro tão avassalador na costa sul-americana do Pacífico?
- Os Andes e a Floresta Amazônica constituirão uma barreira para a chegada desse agente ao Pantanal, o que potencialmente poderia atingir os “agriclusters” avícolas nas regiões Centro-Oeste?
- O vírus da IAAP utilizará as aves migratórias da rota atlântica para atingir as costas brasileiras?
- Qual o potencial reflexo no PIB do Brasil caso a IAAP atinja nossos plantéis industriais?
Há 20 anos, em um artigo que escrevemos para um evento da OIE (atualmente nomeada de Organização Mundial de Saúde Animal) no Peru, nossos cálculos previram um impacto negativo de até 0,33% no PIB brasileiro caso a IAAP atingisse nossa avicultura industrial. Alguns anos mais tarde, o Banco Mundial publicou um estudo estimando que o impacto da IAAP na América Latina poderia reduzir o PIB do país afetado em até 0,7%.
De lá para cá, a biosseguridade evoluiu muito nesse setor. Graças às ações do MAPA e das indústrias do setor, contamos hoje com sistemas de barreiras sanitárias como a regionalização e a compartimentação, ambas aceitas pela OIE para enfrentar problemas desse tipo. Falta apenas “combinar” com nossos parceiros comerciais.
Mas a influenza aviária não é o único fator de preocupação para a avicultura brasileira em 2023.
Ingredientes internacionais entram na lista
Somando-se aos fatos já citados, temos como ingredientes desta “sopa” (ou seria canja?), a continuidade (ou não) do conflito na Ucrânia e a persistência de gargalos globais no transporte marítimo (ainda reflexos da pandemia de SARS-CoV-2) que impactaram, e podem continuar refletindo, no comércio internacional de grãos e fertilizantes.
Além disso, há a redução do crescimento do PIB em quase todos os países do mundo. Vale lembrar que exportamos grãos e proteínas animais para mais de dois terços dos países do planeta. Para finalizar, temos o fator político.
Brasil: fator político e condições ambientais
O novo – mas já conhecido – governo traz na sua história incertezas fiscais. Portanto, há expectativa de aumento das despesas governamentais, de taxas de juros altas e de crescimento econômico mais lento. Será 2023 (e os próximos anos) um replay da última década? Não será surpresa, para alguns, se tivermos desaceleração significativa do crescimento do nosso PIB.
Felizmente condições climáticas favoráveis para a agricultura brasileira, na safra 2022-2023, poderão estabilizar os custos da produção animal local, trazendo um alento para o setor, sempre que não houver manobras econômico-fiscais radicais.
Paulo Martins é médico veterinário, Diretor Técnico e Comercial da Biocamp.