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11/07/2022As vacinas autógenas constituem mais uma alternativa para a prevenção e controle de doenças infecciosas na avicultura. Assim como as vacinas de linha, as autógenas contribuem para minimizar as perdas na produção, alcançar melhores condições sanitárias e maximizar a produtividade.
A diferença entre elas está nos agentes utilizados como antígenos: enquanto as comerciais usam cepas padrão, as vacinas autógenas usam cepas autólogas — o mesmo agente que está causando a doença na propriedade.
Além disso, as vacinas de linha são desenvolvidas para prevenir uma determinada patologia, nas mais diversas regiões de um país. Já as autógenas são produtos customizados, ou seja, devem ser utilizados para uma determinada granja e/ou núcleo afetados, e não generalizados para todas as unidades de uma empresa.
Isso significa que elas são produzidas para atender as necessidades específicas de prevenção às doenças quando estas já foram diagnosticadas no plantel ou propriedade. O agente bacteriano — ou viral — é isolado, identificado, replicado e inativado por especialistas, por meio de técnicas adequadas, para somente depois ser aplicado no próprio animal ou lote.
Aqui explicamos com mais detalhes sobre essa ferramenta já disponível para uso em granjas. Os programas customizados ganham protagonismo quando as vacinas de linhas não conferem a proteção apropriada às aves, sendo essenciais para diminuir perdas de produção e mortalidade de animais.
Mas, antes da aplicação das também chamadas autovacinas — e para que os resultados sejam satisfatórios —, é importante considerar alguns pontos. O diretor técnico e comercial da Biocamp, Paulo Martins, cita 3 deles. Confira!
1) Identificação do problema e diagnóstico corretos
Na avicultura, não são raros os quadros clínicos com origens multifatoriais. Estamos falando de:
- Falhas sistemáticas de biosseguridade na cadeia de produção;
- Condições de estresse provocadas por falhas de manejo e/ou de ambiência;
- Condições climáticas extremas;
- Fatores imunossupressores nutricionais e/ou infecciosos;
- Agentes infecciosos primários;
- Agentes infecciosos secundários.
Por isso, a repetição de um quadro no mesmo lote (ou em lotes diferentes), na mesma operação ou na região serve de alerta. Como o protocolo vacinal deve atender a demanda de custo x benefício do produtor, é importante que os técnicos saibam o diagnóstico correto de qual doença está acometendo seu lote para, assim, utilizar a tecnologia certa.
Para um diagnóstico correto, são fundamentais a anamnese, o histórico do(s) lote(s), a análise das fichas de controle, o exame clínico, os sintomas e a necropsia. O êxito do diagnóstico também depende de outros fatores, como:
- Tipo de material coletado;
- Condições de assepsia no momento da coleta e do transporte até o laboratório de diagnóstico;
- Meios de cultura utilizados para o isolamento de cada um dos agentes supostamente envolvidos;
- Identificação das amostras isoladas, entre outros.
Paulo Martins explica que, antes de se produzir autovacinas, é importante avaliar todos esses critérios, bem como se o resultado simples de provas moleculares é suficiente para o diagnóstico e se o isolamento do agente condiz com o quadro clínico, lesões encontradas e extensão do problema.
Mais ainda: se é possível reproduzir o quadro clínico ou patológico por meio de uma inoculação experimental e se o laboratório de diagnóstico possui expertise não somente para o isolamento, mas também para detectar bactérias de crescimento fastidioso.
2) Tempo de produção
As etapas da fabricação das vacinas autógenas pode levar dois meses — ou até mais — de trabalhos intensos. Isso considerando desde a coleta da amostra até a comercialização do produto, passando por todas as outras etapas: isolamento, identificação, adaptação da amostra aos meios de cultivo, multiplicação e inativação do agente, controle de qualidade e documentação.
Na maioria das vezes, as autovacinas bacterianas requerem aplicação de duas doses, com intervalo de quatro a seis semanas entre elas, para estabelecer uma imunidade mais duradoura. E, preferencialmente, devem ser administradas no período de recria de aves de vida longa. “Não raro, quando os trabalhos de controle de qualidade de uma autovacina são concluídos, alguns lotes-alvo já deixaram a fase de recria e se encontram em produção”, explica Paulo Martins.
Além disso, a multiplicação de um novo microrganismo, recém-entregue pelo laboratório de diagnóstico, depende de inúmeras tentativas e erros para que sua multiplicação, em concentrações adequadas, possa servir como antígeno.
3) Imunogenicidade
Em alguns casos, a imunidade humoral desenvolvida pelas autovacinas não é tão eficaz na redução e controle da infecção, como acontece após a aplicação de vacinas vivas. Estas últimas são capazes de melhor promover a imunidade de base celular e, dependendo da via de aplicação (digestiva ou respiratória), até mesmo produzir imunidade de mucosas ou local (IgA).
No entanto, as autovacinas podem provocar resposta imune de base celular quando são administradas como reforço. Ou seja, quando os animais já estão sensibilizados com as vacinas vivas correspondentes.
Este é o caso das vacinas de salmonelas paratíficas, quando utilizado um primer de bactérias vivas atenuadas. Como exemplo, podemos citar as vacinas vivas contra Salmonella Enteritidis ou Salmonella Typhimurium, com posterior vacinação com vacinas inativadas (de linha ou autovacinas) antes da produção.
Vacinas autógenas: quando aplicar na granja?
A precisão do diagnóstico, o tempo de produção e a imunogenicidade — bem como custo mais elevado — são alguns dos fatores que evidenciam cautela no uso das vacinas autógenas. Por tudo isso, a orientação é para que, sempre que possível, o produtor, o técnico, o sanitarista e a indústria utilizarem vacinas de linha regularmente registradas no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA).
Esses produtos contam com longo período de pesquisa, desenvolvimento e experiência em sua utilização, nas mais variadas condições de campo, além de controle de qualidade específico para cada produto, desenvolvido ao longo de anos e até mesmo décadas.
Somente quando as vacinas comerciais de linha não apresentam a resposta adequada à determinada condição ou patógeno (ou são inexistentes comercialmente para determinada infecção ou enfermidade), é recomendável pensar em lançar mão das autovacinas, produzidas com microrganismos inativados, emulsionados em óleo ou hidróxido de alumínio.
Além disso, antes da introdução da vacina autógena também é importante revisar programas de biosseguridade para tentar identificar se houve falhas. “Muitas vezes, apenas com a revisão dos processos e treinamento da equipe, o problema poderá ser reduzido e, até mesmo, desaparecer”, diz Paulo Martins.
No entanto, se isso não ocorrer, as autovacinas se tornam fundamentais para controlar o surto da doença e promover a imunidade dos lotes alojados na mesma propriedade. “Na necessidade do uso de uma autovacina, é importante escolher laboratórios de diagnóstico e de produção com referência e expertise em suas respectivas áreas devido à complexidade do processo”, explica Paulo.
O laboratório de produção deve atender a todas as etapas regulatórias exigidas pelo MAPA, possuir instalações, equipamentos e tecnologia adequados, time formado por técnicos com grande experiência em adaptação e multiplicação de microrganismos em meios de cultivo.
Esse é o caso da Biocamp, que desenvolve vacinas bacterianas autógenas inativadas para atender as necessidades específicas de prevenção de cada propriedade. Vale lembrar que, uma vez iniciado o uso de autovacinas, os resultados se consolidam após um ou mais ciclos de produção.
Por isso, se você tem vivenciado desafios na sua granja, que as vacinas de linhas comerciais não estão resolvendo, considere o uso das autovacinas. Fale com os técnicos da Biocamp e veja como podemos elaborar um programa para sua propriedade!