A atual escassez de ovos férteis e pintos de um dia é uma realidade que afeta diretamente o setor avícola, especialmente na América Latina. O reflexo dessa baixa oferta é uma piora de qualidade das aves, uma vez que, para não deixar de alojar, as empresas baixam a sua “régua” de qualidade. Pensando em contribuir neste momento crítico, fizemos um bate-papo com nosso especialista internacional em incubação industrial Adriano Bailos e, a seguir, abordamos as principais questões relacionadas à qualidade dos pintos e como melhorar a viabilidade e o desempenho desses animais.
Quais são os desafios atuais para as empresas avícolas conseguirem uma ave de melhor qualidade no incubatório?
“O maior desafio atual para os incubatórios é lidar com muitas situações que não são consideradas as ideais. Devido à falta de ovos, muitas empresas começaram a incubar ovos menores que 48 gramas, postergaram o descarte de lotes de matrizes em final de vida, reduziram os dias de estoque incubando ovos recém-produzidos e, inclusive, passaram a aproveitar ovos que em uma condição normal seriam descartados como fissurados ou ovos muito sujos.”
Qual seria então a melhor maneira de lidar com essas situações adversas e mesmo assim conseguir uma ave de qualidade?
“Em situações como esta, a primeira ação deve ser alinhar todos os setores da empresa na mesma direção e fluir as informações de uma forma que possa ajudar a prevenir os possíveis problemas, em caso, por exemplo, de ovos pequenos que vão gerar aves menores. É de suma importância que nos preocupemos com a janela de nascimento, com a entrega rápida dessas aves no campo e com a preparação da granja para receber um lote que vai demandar muito mais aquecimento, atenção e cuidados no manejo. Em casos, por exemplo, da incubação de ovos de matrizes muito velhas, ovos fissurados ou sujos, a grande preocupação é a sanidade; portanto todas as ações de limpeza e desinfecção devem ser intensificadas. Como muitas vezes esses ovos são incubados com o resto do plantel, essas ações sanitárias devem se estender a todo o processo.”
Como a genética das linhagens influencia a qualidade do pintinho?
“A genética tem um papel crucial, mas as linhagens atuais têm focado cada vez mais na produtividade das aves no campo. Dessa forma, a eclosão e a qualidade de pintinhos vistas no passado já não são mais as mesmas e estão cada vez mais difíceis de serem alcançadas. Por isso, a atenção às reprodutoras desde o alojamento na recria é essencial. Garantir um lote de matrizes uniforme em que as aves estejam bem nutridas, livres de estresse e com ótima condição sanitária é o primeiro passo para se obter uma boa produção, uma boa eclosão e, consequentemente, uma ótima qualidade dos pintos.”
Como os probióticos podem ajudar a melhorar a qualidade dos pintos?
“O uso de probióticos é uma solução cada vez mais estabelecida nos incubatórios. Esses produtos têm o poder de fortalecer o sistema imunológico dos pintinhos, o que é essencial, principalmente quando enfrentamos condições de alta mortalidade e viabilidade reduzida. O uso de probióticos pode ajudar a melhorar a resistência e o desempenho dos pintinhos, resultando em uma estratégia vantajosa, inclusive nesse momento em que há falta de produto e o custo do pintinho está elevado. Cada ave saudável conta, por isso, precisamos utilizar todas as “armas” que temos, e os probióticos são uma excelente ferramenta.”
Quais cuidados devem ser tomados no momento da transferência dos ovos para o nascedouro?
“A transferência de ovos para o nascedouro é um momento crítico do processo, é necessário garantir que esta seja feita no momento correto e de acordo com a necessidade de cada lote; também é importante respeitar a característica genética de cada linhagem. Atualmente, temos três principais linhas no Brasil. Em termos gerais, para linhagens COBB Male, por exemplo, a transferência deve ocorrer entre 18 dias e 12 horas a 19 dias, enquanto para a linhagem ROSS AP95 ou Hubbard, o intervalo é entre 18 dias e 14 horas até 19 dias e 04 horas; isso claro que em condições normais de incubação. Se a transferência for realizada de forma inadequada, pode haver problemas como a má cicatrização do umbigo e piora na qualidade das aves, causando uma maior mortalidade inicial no campo.”
Como o controle de CO2 influencia o desenvolvimento dos embriões?
“O controle de O2 x CO2 tornou-se essencial, especialmente nos incubatórios de etapa única. Segundo alguns estudos, durante os sete primeiros dias de incubação, é interessante manter níveis mais elevados de CO2 (cerca de 5.000 a 7.000 ppm) e, após esse período, o ideal é que esse número não ultrapasse os 3.000 ppm. No entanto, é preciso ter cuidado porque, para aumentar o CO2, precisamos fechar a incubadora, reduzindo a quantidade de trocas de ar. Com isso, acabamos não eliminando a umidade do ambiente gerada pela perda de água dos ovos; esta ação pode dificultar a perda de umidade necessária até a transferência e, se essa perda for menor que 10,5% do peso total do ovo, podemos ter problemas de qualidade.”

Quais são os parâmetros ideais para o conforto do pintinho no nascedouro?
“No nascedouro, temos que nos preocupar principalmente com três parâmetros: temperatura, umidade e renovação de ar. A temperatura das aves no nascedouro deve ser mantida entre 39,5 °C e 40,5 °C. Quanto à umidade, temos duas preocupações: o excesso gerado pelo nascimento das aves e pela condensação da serpentina e a falta no final do nascimento após as aves estarem todas secas. O ideal, nesse caso, é garantir um mínimo de umidade através dos bicos estipulando entre 84 ºF e 86 ºF e, no momento de maior nascimento, permitir que a máquina abra o dumper para eliminar o excesso, o que nos leva ao terceiro parâmetro: as trocas de ar. Sem a renovação de ar adequada nos nascedouros, corremos o risco de criar um ambiente hostil para ave com altos níveis de umidade, CO?, penugem e até gases de desinfecção e, por sua vez, este ambiente hostil pode piorar a qualidade das aves, daí a necessidade de efetuarmos as trocas de ar corretamente.”
Como a janela de nascimento impacta a qualidade dos pintinhos?
“A janela de nascimento é o período entre o nascimento do primeiro pintinho e o último. O controle dessa janela é essencial, pois se for muito longa, os primeiros pintinhos nascidos podem sofrer de desidratação, o que prejudica sua qualidade. A janela ideal é entre 18 e 22 horas. Garantir que todos os pintinhos nasçam nesse intervalo é fundamental para evitar problemas como desidratação e inatividade dos pintinhos.”
Quais são as melhores práticas para o transporte de pintinhos?
“O transporte dos pintinhos é um momento crítico, e é necessário que o baú do caminhão tenha condições adequadas de ventilação e umidade. O transporte deve ser feito por profissionais qualificados, que além de serem motoristas, precisam saber como lidar com as necessidades do pintinho durante a viagem. O ambiente no caminhão deve ser controlado para evitar que os pintinhos sofram de calor excessivo ou frio.”
Em momentos de escassez e aumento de custos, qual é a importância de investir em probióticos?
“Quando o custo do pintinho é elevado, investir em probióticos e outros produtos que melhorem a resistência e o desempenho se torna ainda mais importante. Probióticos ajudam a reduzir a mortalidade e aumentam a viabilidade do lote, proporcionando um retorno positivo sobre o investimento. Em tempos de escassez, é fundamental otimizar cada pintinho, e os probióticos são uma ferramenta eficaz para que a produção seja mais rentável.”
A cenário atual dos incubatórios exige soluções eficazes para a proporcionar melhor qualidade dos pintinhos, especialmente diante da alta demanda e escassez de ovos. O uso de probióticos, controle rigoroso das condições de incubação e atenção ao momento crítico da transferência são medidas essenciais para melhorar a viabilidade e o desempenho dos pintinhos. Não deixando de enfatizar que o treinamento constante da equipe para que todos estejam comprometidos com as melhores práticas de produção é essencial para a melhor produtividade.

Autor: Adriano Bailos
Consultor especialista internacional
em incubatórios