Mercado de Avicultura: especialista analisa as tendências para o pós-pandemia
09/09/2020No mês que comemoramos o Dia do Veterinário, profissional da Aviagen fala sobre sua trajetória
28/09/2020* Paulo Martins
“Estamos diante do maior experimento psicológico [isolamento] já realizado”. Foi o que Elke Van Hoof, psicólogo de saúde da Universidade Livre de Bruxelas-VUB (Bélgica), avaliou em entrevista à Scientific American (junho 2020), uma das maiores revistas de divulgação científica dos Estados Unidos. Essa frase é extremamente impactante e mostra o nível de estresse a que a humanidade está sendo submetida com a SARS CoV 2.
Assim como os efeitos psicológicos que a pandemia traz, os impactos físicos e biológicos são também de grande importância. Os riscos de propagação do vírus não se restringem à primeira ou à segunda onda de que tanto falam os especialistas. A própria Organização Mundial da Saúde (OMS) já fez o alerta: o crescimento no uso de antibióticos para combater a pandemia de Covid-19 aumentará a resistência bacteriana e em última instância provocará mais mortes durante a crise sanitária e depois dela.
Assim, não é exagero dizer que a ameaça da resistência antimicrobiana é um dos desafios mais urgentes da atualidade. Um documento publicado pelo governo inglês, em 2014, (“Resistência Antimicrobiana: Combatendo uma Crise para a Saúde e Riqueza das Nações – HM Government”), citava que mundialmente mais de 700 mil mortes por ano eram ocasionadas por microrganismos resistentes aos antibióticos. Para se ter uma ideia da dimensão do que estamos vivenciando agora, no início de agosto de 2020 o mundo atingiu as mesmas 700 mil mortes exclusivamente em decorrência da pandemia de SARS CoV 2.
Posto isso, não há como fugir do tema: a produção animal sem o uso de antibióticos. Ela já é uma realidade em vários países do mundo, até mesmo no Brasil. Consideramos um caminho sem volta, dado que campanhas internacionais – inclusive da aliança tripartite entre Organização Mundial da Saúde (OMS), Organização Mundial de Saúde Animal (OIE) e Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) – estão em pleno desenvolvimento, cobrando governos e promovendo cada vez mais o conceito de One Health (conceito de saúde única: homem, animais e meio ambiente).
E enquanto governos estão focando primeiramente em segurança alimentar, ou seja, na garantia de alimentos disponíveis para a população, as grandes cadeias de supermercados e os consumidores estão mais preocupados com a qualidade dos alimentos – aliás, o consumidor está mais atento à forma de produzir, principalmente quanto ao bem estar animal e ao seu rápido crescimento.
Trabalhando há 44 anos em produção animal, tenho uma opinião consistente: chegamos num ponto sem volta no que diz respeito à eliminação radical dos antibióticos melhoradores de desempenho (AMD) e redução dramática do uso de antimicrobianos terapêuticos. E o fato de já contarmos com inúmeras ferramentas para substituição dos antimicrobianos disponíveis para todas as empresas do setor avícola é bastante importante. A exemplo do que já vemos na Europa, o foco está em antecipar a detecção de possíveis problemas causados pela produção animal sem uso de antibióticos e resistência antimicrobiana.
Aqui, os probióticos e produtos de exclusão competitiva (EC) ganham destaque. Amplamente reconhecidos em âmbito nacional e internacional, são alternativas eficazes, assim como uma solução na prevenção de doenças e síndromes em aves, desempenhando um papel relevante tanto na performance quanto na resposta imunológica dos animais.
Entre os benefícios do uso dos probióticos e de produtos de EC, podemos listar:
- Produção de ácidos orgânicos (SCFA- ácidos orgânicos de cadeia curta), bacteriocinas e outras substâncias;
- Quebra de moléculas complexas ingeridas pela ave, favorecendo a digestão e absorção de nutrientes;
- Produção de vitaminas e enzimas;
- Melhora da função imunológica do intestino;
- Redução da presença de bactérias patogênicas, tais como Salmonella, E. coli patogênica (APEC) e Clostridium spp.
- Melhoria de desempenho, devido ao aumento de peso, diminuição da conversão alimentar e mortalidade.
Ainda que haja uma preocupação constante com o aumento de custos que essas soluções possam trazer, minha resposta é direta: o custo será igual para todos aqueles que estiverem dispostos a competir no mercado. Com desafios semelhantes, prevalecem aqueles que focarem em um trabalho sério, perene e com objetivos não apenas de curto prazo.
Se planejar é preciso, já existem no país empresas e cooperativas que acumulam grande expertise neste sentido. Algumas, inclusive, constataram que em vários meses do ano, além da melhor performance zootécnica, foi possível diminuir seus custos usando produtos alternativos aos AMDs.
* Paulo Martins é diretor Técnico da Biocamp Laboratórios, médico veterinário, formado pela Universidade de São Paulo, com vasta experiência nacional e internacional em produção avícola.
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Com o setor em constante transformação, é preciso se preparar e se adaptar para manter-se competitivo. Experimentar e aprender com os desafios que certamente virão por conta da atual pandemia trará a expertise necessária para se ter mais segurança na adoção das medidas exigidas quando não se faz o uso de antibióticos. Neste contexto, um olhar diferenciado e a adoção de medidas de biosseguridade e manejo que englobem todas as etapas de produção se fazem ainda mais determinantes. Aqui, contar com parceiros estratégicos será decisivo. A Biocamp, além de possuir soluções em seu portfólio que auxiliam o produtor na implementação destas práticas, tem um corpo técnico altamente especializado que pode ajudar na busca de melhores resultados de performance técnica e econômica. Fale com um de nossos especialistas.